CI

194 mil produtores devem ficar sem acesso ao crédito rural

Economista-chefe da Farsul afirma que Plano Safra 2025 é o menor em duas décadas


Foto: Emerson Foguinho / Divulgação Farsul

Apesar do anúncio de um Plano Safra recorde pelo governo federal, os dados de liberação de crédito rural mostram uma realidade preocupante. “Estamos vivendo a maior crise de crédito rural desde o início do Plano Real”, alerta o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz. A afirmação tem base em uma retração histórica do volume efetivamente contratado pelos produtores — e pode comprometer a tecnologia e o tamanho da próxima safra.

Queda brusca na liberação de crédito e no número de produtores atendidos

Os números falam por si. “De julho a setembro deste ano, os recursos efetivamente liberados caíram 23% em relação ao mesmo período do ano passado. E, se compararmos com 2024, a queda é de 35%”, detalha da Luz. Essa retração é sentida não apenas nos valores, mas no número de produtores. “Já perdemos 22% dos tomadores de crédito em relação a 2023, e 31% se comparado ao Plano Safra 2024. De cada três produtores que acessaram crédito no ano passado, um ficou de fora em 2025.”

A previsão da Farsul é de que 194 mil produtores fiquem sem acesso a crédito rural ao longo deste ciclo. “São 194 mil seres humanos. Isso é grave. Não é só uma questão de planilha, é uma crise humanitária e econômica”, alerta.

Impacto é nacional, não restrito ao RS

Embora o Rio Grande do Sul tenha enfrentado problemas climáticos severos, da Luz reforça que a crise é estrutural e de alcance nacional. “A queda no volume de crédito é de 23% no Brasil e 25% no Rio Grande do Sul. A diferença é de apenas dois pontos percentuais. Ou seja, não é um problema localizado por causa das enchentes. É o Brasil inteiro.”

Segundo ele, a origem da crise está na combinação de juros altos, inadimplência crescente e retração nos recursos disponíveis. “O que mais dói não é o número de bilhões a menos, é o número de produtores excluídos.”

Menos crédito, menos tecnologia

Para além dos números, a crise já começa a impactar a qualidade da próxima safra. “A preocupação não é só com o tamanho da área plantada. O que mais nos assusta é o impacto no nível tecnológico. Sem crédito, o produtor adota menos tecnologia, usa menos insumos, investe menos. E isso tem reflexos diretos na produtividade e na renda.”

A projeção da Farsul é que o Plano Safra 2026, que já começou em julho deste ano, fique abaixo de R$ 300 bilhões, um valor inferior ao anunciado para 2025 (R$ 383 bilhões) e ainda mais distante dos R$ 447 bilhões de 2024.

Apelo ao governo

Diante do cenário, Antônio da Luz reforça a necessidade de medidas urgentes. “Não basta anunciar valores. É preciso garantir que o produtor consiga, de fato, acessar os recursos. Caso contrário, estaremos acelerando o processo de exclusão no campo.” A entidade cobra mais flexibilidade nos critérios de crédito, revisão das taxas de juros e reforço das linhas emergenciais para evitar um colapso produtivo. “Estamos falando da sustentabilidade do agronegócio brasileiro. Sem crédito, não há produção. Sem produção, não há país que se sustente.”

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.